Projeto Barão do Serro Azul:

Recomposição Histórica de um Herói

Século XVII

O Paraná do Século XVII

O Século XVII é determinante para entender-se os fatos que virão acontecer nos subsequentes. O período seiscentista fará com que o território paranaense seja de dupla colonização: nos dois extremos fixam-se os espanhóis e portugueses, em constante litígio a fim de tornar o Paraná luso. A presença espanhola é levada a termo já na primeira metade do século XVII. O influxo das bandeiras paulistas terá papel protagonista de sepultar todo o legado hispânico do Paraná Ocidental. A Leste, se oficializam as Vilas de Paranaguá e Curitiba, abrindo um novo capítulo de nossa história.

O Princípio

Em 1627, afirmou o franciscano Vicente de Salvador em seu livro “História do Brasil”, a primeira obra do gênero que se tem notícia no país: “por negligência dos portugueses, que, sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos”.

Tal afirmativa ao mesmo tempo crítica à incipiente exploração do sertão brasileiro e nos evidencia a conformação inicial da ocupação do Brasil, nos dois primeiros séculos da chegada dos portugueses. Embora ao Oeste, na República del Guairá, como já descrevemos no século XVI, tivesse sido entabulada pelos espanhóis, no nosso litoral, não será diferente a presença espanhola, no sentido do cotejo territorial, como figuras de origens hispânicas, será de importância capital para a consolidação administrativa do embrião do nosso território, o litoral, tendo como centro Paranaguá. Portanto, não se pode afirmar que a Oeste é de início o “Paraná Português”. Assim é chamado, pelas linhagens que posteriormente irão formar as famílias-tronco, os bastiões da formação da Sociedade do Paraná Tradicional.

O grande escopo do trânsito das ‘Bandeiras”, nos séculos XVI e XVII no território litorâneo paranaense, compostas por portugueses e espanhóis vicentistas, do qual trataremos melhor adiante, era a busca por dois itens considerados de extrema necessidade para a viabilidade da Colônia: o Gentio (Silvícolas) e o Ouro.

“O índio foi no Sul do Brasil, o braço de trabalho sobre o qual foi possível a colonização e o estabelecimento das instituições de fundo português […] Já no final do Século XVI, em 1585, os moradores de S. Vicente e São Paulo, precisando da renovação de sua escravaria pediam ao Capitão-Mor a organização de bandeiras para caçar os índios Carijós dos territórios hoje paranaense e catarinense[…](BALHAMA; WESTPHALEN; MACHADO, 1969, p. 27).

Para termos uma ideia de como a ocupação do atual território Leste paranaense é remota, já em 1554 os vicentinos mantinham contato com os Índios Carijós, bem como os jesuítas, procuravam catequizar os “selvagens” nestas plagas. Antonio Vieira dos Santos, calcula que a este tempo contava nosso litoral com seis a oito mil Carijós. Dominadores de toda a costa marítima, de Cananéia à Lagoa dos Patos, atacados e preados em grandes levas na região de Paranaguá por sucessivas “bandeiras” formaram forte posição de ataque aos primeiros colonizadores.
Pouco antes de 1640, Gabriel de Lara, ao procurar estabelecer-se em Paranaguá, receou a hostilidade do gentio Carijó, possivelmente ainda ressentido do assalto bandeirante de 1585, e prudentemente se localizou com sua expedição na ilha da Cotinga, fronteira ao continente, para onde transferiu-se depois, fundando a vila de Nossa Senhora do Rosário de “Pernaguá.” Tendo captado a confiança do Gentio, deles se serviu para a descoberta e a exploração de ouro. Assim foi que os Carijós da Costa parnanguara não foram escravizados pela bandeira preadora, enquanto alguns internaram nas matas, fugindo a outras agressões dos brancos. Passaram a constituir o lastro etnográfico da nossa atual população litorânea. Ainda hoje a nossa gente praieira conserva o tipo do seu ascendente.

O território

O atual território do Litoral Paranaense estava inserido nas Capitanias de Santo Amaro e São Vicente; a primeira dada a Pero Lopes de Souza e a segunda a Martim Afonso de Souza, sendo esta compreendida da Barra da atual cidade de Santos até 12 léguas ao sul da Ilha de Cananéia, atual Estado de São Paulo, culminando na Barra de Paranaguá. Já a de Santo Amaro se estendia da Barra de Paranaguá até o sul de Laguna, atual Estado de Santa Catarina. Logo, as duas Capitanias eram eminentemente litorâneas, fato pelo qual nos leva a entender a razão de Paranaguá, a primeira cidade do Paraná ter sido fundada na Costa, ao Ponto Leste do território. A incapacidade de administração dos herdeiros dos citados donatários fez com que no início do Século XVIII fossem incorporadas à administração e posse da Coroa Portuguesa, no reinado de D. João V, passando a ser a autoridade máxima a figura do Governador da Capitania.

As minas de Paranaguá

A descoberta do ouro em Paranaguá é um assunto que gera divergências nos autores clássicos da história do Paraná, no quesito de quem primeiro as encontrou.

“A descoberta de ouro, que Gabriel de Lara revelou em sua viagem a São Paulo, em 1646, feita especialmente para registrar o precioso minério na casa da moeda, atraiu a cobiça do vicentistas […] Paranaguá povoou-se com por encanto da noite para o dia. A ambição do ouro lançava os aventureiros em lutas e disputas quase funestas”. (NEGRÃO, 1926, p. 50).

Não poderia existir e prosperar Paranaguá sem a atividade extrativista. O fato que muitas pessoas desconhecem é que em Paranaguá foi descoberta a primeira lasca de ouro, antes que qualquer outra parte da América Portuguesa, sendo a primeira mostra oficial do ouro brasileiro. Deve orgulhar-se o paranaense de tal louro.

Paranaguá, de vila à capitania

Estava dessa forma consolidado o povoamento da Vila de Paranaguá, ocupada por vicentistas, paulistas portugueses e seus descendentes. Para fins legais, por Provisão Régia de 29 de julho de 1648, era criada a Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá. Sua condição como Capitania se dá em 1656, desmembrada da Capitania de Santo Amaro, na disputa sucessória da mesma pelos herdeiros de Pero Lopes de Souza. Somente em 1709 a Coroa anexou com outras Vilas Paranaenses a Capitania de São Vicente e, em 1723, é criada a Comarca de Paranaguá.

O estabelecimento da Vila de Paranaguá, emerge na conjuntura de defesa do território lusitano da ameaça constante dos castelhanos naquelas bandas. A Fortaleza da Ilha do Mel é um exemplo concreto da ação de fortificação.

Em fins do Século XVI, o Governador D. Francisco Souza, sétimo Governador do Brasil, veio para dirigir a procura de ouro e prata no Brasil. Com sua saída, os paulistas empenharam-se mais na busca de índios no Guairá do que em explorar minas. A atividade aurífera era um trabalho por demais de dificultoso a um morador das vilas circunvizinhas de São Paulo, por se tratar da distância e a logística de escravos, durando a viagem de S. Paulo aos Campos de Curitiba 40 dias em transportes nas costas de índios.

Três fatores foram fundamentais para a sedentarização dos primeiros habitantes no litoral paranaense. A existência das minas e a necessidade fixação compulsória em detrimento da longa jornada que seriam obrigados a cumprir, caso fossem moradores dos vilarejos para além do território parnanguara e para o resguardo territorial luso, fixando residência nos Campos de Curitiba e em Paranaguá. Existindo, assim, um povoado anterior à fundação da Vila de Paranaguá.

De início, por volta de 1650, fixaram-se esses na Ilha da Cotinga, onde foi erigida a posteriori a Ermida dedicada à Nossa Senhoras das Mercês, sendo a primeira Capela erguida no Estado. Em vista das parcas condições de vida não se notavam em 1648, ano da fundação da Vila, numerosos habitantes. No primeiro “termo de ajuntamento” figurava apenas quinze nomes e quando da eleição para eleger os administradores da Vila, estavam presentes 95 eleitores. No mesmo ano, iniciava a disputa autoral do descobridor das Minas de Paranaguá. Francisco João Leme, filho de um mineiro espanhol reivindicava o ato a seu pai, Manoel João Branco, e o espanhol Bartolomeu Torales também.

Torales, Morador da Ciudad Real del Guairá, de lá residindo em 1654 em Paranaguá, faz missiva ao administrador-geral, expondo seu périplo na empreita de descobrir as minas de Paranaguá, assinando a carta com a chancela “Del poblador y descobridor de las minas de Pernaguã, Bartolomeu Torales”. Dois anos após o escrito, Pedro de Souza Pereira, administrador das minas, averiguava a veracidade do relato de Torales, concluindo que em verdade haviam minas, mas não se podia provar o valor real do metal por faltar no local mineiros e fundidores.
Porém, para a historiografia oficial, Gabriel de Lara foi o veríssimo descobridor do ouro em Paranaguá. Tal fato fica para a história julgar. Teria o crédito como pioneiro um português, ou um espanhol, no contexto de litígio territorial?

Dada a notícia do descobrimento do dito metal ao governador do Rio de Janeiro, a qual estava subordinada a administração das minas do Sul, manda Heliodoro Ébano Pereira. Em informe datado de 1651, Heliodoro relata que nos campos de Curitiba, sertão dessa baia, se descobriram outros ribeiros de lavagem. Cabe ressaltar que o termos “ouro de lavagem” é o famigerado ouro de aluvião, que é extraído das encostas dos rios, considerado de pouca qualidade em relação ao das Minas Gerais.

Em meados do século XVII, os moradores do litoral e dos Campos de Curitiba, constituíam uma única comunidade centralizada em Paranaguá, desta forma nasce o embrião do cidadão paranaense, um paulista aqui estabelecido, com distinção dos moradores de São Paulo.
O ano de 1660 é marcado pelo advento do rótulo de Capitania à Paranaguá, com a nomenclatura de “Capitania de N. S. do Rosário”, criada pelo Marquês de Cascais no contexto de herdeiro em litígio da Capitania de Santo Amaro; e assim permanecerá com tal status por meio século. Com o declínio da mineração, a Capitania é extinta em 1720.

 

A Vila e o poder, ao apagar seiscentista

A fundação de Paranaguá e Curitiba são determinantes para o estabelecimento de um modelo de autênticas Vilas do Brasil Colonial e de simulacro para as demais vilas paranaenses que seriam doravante fundadas.. Dentro do padrão lusitano de justiça e administração municipal, no apagar das luzes dos anos mil e seiscentos, estava assim disposta na narrativa de Negrão: “A administração era, no começo do século XVII, composta de dois juízes ordinários, três vereadores, dois Almotacés (responsáveis pelo fisco) e um Escrivão da Câmara”. (NEGRÃO, p. 85, 1926). Vale destacar que no primeiro momento de implantação da ordem nas Vilas ao Sul da então Capitania de São Vicente, a instância de governança, estava centrada na Câmara Municipal. Era através dela que dirimiam-se todas as questões de foro cível e criminal. A centralização do poder estava voltada nas famílias dos mais influentes.

“A importância da família no contexto colonial, é assim sintetizada: na falta de uma presença forte do Estado, a sociedade era dominada pelas famílias extensas ou clãs. Grandes parentelas controladas por um patriarca, ou às vezes, uma matriarca, dominavam a maioria dos aspectos da vida social, o que incluía o governo local, as atividades produtivas e comerciais, o poder do clã não residia só em sua riqueza e bens materiais, como também, e talvez de maneira mais marcantes, nos recursos humanos, que conseguiam ter a disposição, parentes, índios e escravos africanos. Assim sendo o casamento dos filhos ampliava e fortalecia o clã. ” (NAZZARI, 2001).

No caso Curitibano, os personagens como Baltazar Carrasco dos Reis, Matheus Leme, dentre outros moradores precursores, além de serem fundadores da Vila de Curitiba, detiveram o poder da ordem, transferindo post-mortem aos seus herdeiros. A Este grupo formado pelos povoadores iniciais, nasceu a sociedade curitibana, sobretudo pelos laços de casamentos estabelecidos entre membros das famílias.

O Capitão-Mor

Dentro da conjuntura de poderio, destacamos a figura autoritária do Capitão-mor. A criação do cargo de Capitão-Mor, representou a primeira iniciativa da Coroa portuguesa de colonização efetiva do território descoberto. Dotava-o de todo poder e alçada, no crime e no cível, incluindo pena de morte natural, sem direito a apelação nem agravo, exceto no caso de fidalgos, quando os autos deveriam ser remetidos para o rei. Conferia ainda poder para demarcar todas as terras conquistadas, e tomar posse delas em nome do rei; Na carta de poderes para o capitão-mor instituir tabeliães e mais oficiais de Justiça, o rei concedia-lhe o poder de criar e investir alguns oficiais e funcionários que se fizessem necessários, dar terras às pessoas interessadas em povoar o novo território, mas essa doação não teria caráter hereditário. No Paraná o cargo de Capitão-Mór foi instituído à época da fundação de Paranaguá, tendo Gabriel de Lara o primeiro a portar este título. Investido ele como Capitão Povoador e criada a Justiça, através das autoridades eleitas em 1649, nos moldes portugueses, inicia-se o tempo de entabulação de medidas para a ordem e expansão do território além da Serra, iniciando o processo da ocupação e legitimação dos Campos de Curitiba.

A ocupação e fixação dos aventureiros faiscadores no platô curitibano, acontecem simultaneamente com os movimentos de procura do ouro no litoral. Não só a possibilidade aurífera, mas uma flora diferente do litoral,com vastos pinheirais e vegetação passível da criação de gado vacum, despertou o interesse, daqueles que há algum tempo já vivia em Paranaguá, sendo assim, a subida da serra do mar, foi dando-se de forma gradual e aos que nos campos dos pinheirais foram ficando, trataram logo de requerer Sesmarias, para garantir a ocupação no território inóspito, vendo que as lavras do litoral, rareavam-se Nasce desta forma o embrião da Vila de Curitiba.

Sesmarias: a garantia da ocupação

Vinda de Portugal, a instituição da Sesmaria foi transplantada para as terras portuguesas ultramar, chegando ao Brasil. A monarquia portuguesa, nessa tarefa de povoar o imenso território, encontrou nas bases de sua tradição este modelo. Foram as normas jurídicas do Reino que orientaram a distribuição da terra aos colonos. A lei D. Fernando I, de 1375, pregava o retorno das terras não cultivadas para as mãos da Coroa. Essa lei foi incorporada nas Ordenações Filipinas, Manuelinas e Afonsinas. O Capitão-Mor e governador representando os poderes do Rei, como administradores e delegados, com jurisdição sobre o colono português ou estrangeiro, mas sempre católico. Aliás, esta era uma das exigências para a doação de terras. É importante lembrar que as sesmarias não eram de domínio total dos donatários ricos, mas apenas lhes tocavam as partes de terras especificadas nas Cartas de Doações. As cartas de Sesmaria eram documentos passados pelas autoridades para doar terras. Nelas os donatários e governadores de províncias autorizavam ou não as doações.

A primeira Sesmaria de terras do Paraná, que se tem notícia, foi outorgada à Diogo de Unhate em 1614, abrangendo uma parte de terras hoje compreendidas entre Paranaguá e a Ilha de Superagui. Já as sesmarias no Planalto foram distribuídas antes mesmo da fundação formal da Vila de Curitiba, a exemplo de Matheus Martins Lemes, que obteve de Lara, terras às duas margens do Rio Barigui, em 01 de Setembro de 1668. Outra carta, ainda na “pré-fundação”, foi passada à Manoel Soares “junto à paragem chamada Boatiatuva, junto às terras do Capitão Baltazar Carrascos dos Reis, Arraial do Dom Rodrigo da Outra parada do Rio Passaúna e pela parte Nordeste, a testar com as terras do Defunto Domingos Rodrigues da Cunha, Luiz Góes e o Capitão Matheus Martins Leme, no caminho que corre para as Minas de Itambé” (NEGRÃO, 1926, p.62).

O objetivo da titulação nessas localizações, junto a ribeiros e riachos e rios, era justamente a salvaguarda de uma possível mina aurífera e a garantia de alguns alqueires de terra; segundo muitos estudiosos, esta modalidade deu no Brasil o início do latifúndio. No teor das petições para o deferimento da Sesmaria, o argumento do suplicante era não possuir terras para lavrar e ter família constituída. Evidentemente só conseguiam o benefício da referida Carta, “os homens bons”, ou seja, aqueles que tinham prestígio junto ao Capitão, a alegação de ser “sem terra”, fazia-se como uma formalidade de estilo para atender os regulamentos do benefício, prometendo cuidar da terra, lavrá-las e criar animais.

Curitiba: o primeiro núcleo populacional

Pelo menos ao que as fontes primárias nos apontam, os representantes da Coroa na terra dos pinheirais cumpriam todas as formalidades das ordens emanadas dos palácios portugueses. Dentro das ordenações citadas, em povoados que houvesse um contingente de 30 pessoas, havia de ali estabelecer uma vila, com justiça e eleger autoridades. Sendo assim, aproveitando a presença de Gabriel de Lara, que serra acima passava em correição, em 1668, cria-se a primeira Vila de Nossa Senhora da Luz de Curitiba. Mesmo feita a ereção do Pelourinho, não houve a eleição da Justiça, só realizada em 1693. O local exato da paragem não se sabe ao certo, porém temos duas versões formuladas no Século XX. A de Júlio Moreira e de Igor Chmyz, a primeira assim nos apresenta:  

Com vistas a definição do local onde a Vilinha teria sido implantada, Júlio Estrela Moreira desenvolveu intensa pesquisa baseada em dados históricos e geográficos, publicando-a em 1972. Concluiu que o efêmero povoado foi fixado na margem do rio Atuba, junto ao vau que possibilitava a sua transposição pelos usuários da trilha que passou a ser chamada de Caminho do Itupava;. Conforme o mesmo autor, ainda, foi nessa área que Eleodoro Ébano Pereira averiguou ouro em 1649 (Moreira, 1972:69 e 71). Apesar de muito perturbado por exploração de argila, o lugar apontado por Moreira foi submetido a pesquisa arqueológica entre os anos de 1986 e 1987, não se encontrando nele qualquer evidência de ocupação em favor da tese do historiador.” Já a segunda: Os cortes-estratigráficos praticados nas margens planas do rio demonstraram apenas a intensa sedimentação causada pelas sucessivas enchentes, portanto, insalubres para comportarem povoado ou vila.  Anteriormente, em 1964, um sítio arqueológico foi encontrado na margem esquerda do vizinho rio Bacacheri, nas imediações do Caminho do Itupava. Os objetos cerâmicos resgatados na margem elevada e não sujeita às enchentes, apontaram para assentamento formado por um grupo que os produziu utilizando técnicas de origem indígena e europeia[…]’(Chmyz, 2003:69).

 A tese mais aceitável apresentada, pelas evidências da ciência arqueológica e a proximidade com os “Caminhos da Marinha”, conclui que a Zona Leste de Curitiba foi a porta de entrada para a colonização do espaço.. Na década de 1970 a municipalidade criou no Bairro Alto o Parque Histórico de Curitiba, como  marco da nossa origem como núcleo populacional. 

No hiato de 25 anos, até a fundação oficial da Vila de Curitiba, não temos notícia dos feitos do Núcleo populacional da Zona Leste. O único dado concreto é que de 30, subiram para 90 pessoas. Sabe-se que as mesmas famílias que estavam no litoral, subiram a serra para formar a Capital.

Os luso-paulistanos: quem era essa gente

Os primeiros personagens da Genealogia paranaense, são os luso-paulistanos. Estes  aventureiros tem suas origens nas terras lusitanas e na Capitania de São Vicente, da qual somos filhos. O ouro atraiu para Paranaguá, moradores não só de Cananéia e Iguape e paulistas do planalto. Segundo Francisco Negrão, em “Genealogia Paranaense”, nos dá conta de que no final do Século XVII e nos XVIII e XIX, a terra dos pinheirais acolheu Portugueses vindos diretamente de Portugal e Ilhas. O mesmo autor, no minucioso trabalho, conclui que a formação do Paraná Português Tradicional deriva de 27 famílias-troco. Embora os lusos figurassem como maioria, também há na conformação do lastro genealógico, algumas “almas” espanholas, produto da miscigenação ibérica, oriunda da Capitania São Vicente.  A procedência dos vindos d’além mar é o Norte de Portugal, mais precisamente de Braga, Porto e adjacências. 

A presença lusa e descendentes, será determinante para a organização no modelo da organização da justiça, na criação das Vilas, na concepção da arquitetura e no modelo de vida no campo social e econômico. Foi uma presença efetiva e homogenia, de mais dois séculos, até a chegada das levas imigratórias europeias no Século XIX. Estavam estabelecidas em Paranaguá e Curitiba as células fundamentais de povoamento do Paraná. Conservaram-se nessas duas vilas as famílias mais antigas, as detentoras de cargos de destaque ou de fazendas nos planaltos e ainda outras que empobrecendo aos poucos, chegaram a humildes condições, constituindo a origem de muitas das famílias caboclas ainda hoje existentes no Paraná.

Fundação de fato

Da união dos moradores de uma módica vila, segundo a tradição conta, migrados para o atual sítio urbano nos arrabaldes da Praça Tiradentes, rogando à Gabriel de Lara, novamente em 29 de Março de 1693, foi eregido o Pelourinho, com uma pequena capela levantada. Lendas do Cacique Tindiquera à parte, estava criada, eleita a justiça e Câmara da Capital Paranaense, com Matheus Leme como autoridade máxima, embora já estivesse em idade avançada. Todos os fatos históricos que doravante acontecerão, tem como base este marco. Os campos de Curitiba serão a base para a ocupação do sertão até então desconhecido.   

Personagens

Referências Bibliográficas

CHMYZ, I. et. al. , Relatório de Impacto Ambiental: Operação Urbana Consorciada Linha Verde – Diagnóstico Sobre o Patrimônio Arqueológico, Curitiba, Ippuc, 2011.   

BALHAMA, A. P., MACHADO, B.P. WESTEPHALEN, C.M. História do Paraná, v. 1. Curitiba: Grafipar, 1969.

DINIZ, M. Sesmaria e posse da terra: políticas fundiárias para assegurar a colonização brasileira. São Paulo, Revista Histórica do Arquivo Público do Estado de São Paulo, 2005.

KAISER, J. Aventura no Caminho dos Tropeiros, Florianópolis: Letras Brasileiras, 2006.

LACERDA, C. L., et al.  Dicionário Histórico-Biográfico do Paraná, Curitiba, Editora do Chain, 1994.  

LEÃO, E. Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná, Curitiba, Empresa Graphica Paranaense, 1926.

MARTINS, R. História do Paraná, Curitiba: Editoria Guaíra, s/d.

NAZZARI, Muriel. O Desaparecimento do Dote: mulheres, famílias e mudança social em São Paulo, Brasil, 1600 – 1900. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

NEGRÃO, F. Genealogia Paranaense v. 1. Curitiba, Imprensa oficial do Paraná,1926.  

Linha do Tempo

1608 – Fundação da Província Del Guairá, erigida por espanhóis, a fim de conter o avanço português.

1610 – São fundadas 13 Reduções Jesuíticas em território espanhol.
Felipe II da Espanha declara livres todos os índios do Brasil. Na época, o Paraná teria algumas dezenas de milhares de selvícolas em seu território.

1613 – Introdução do Gado Vacum nos Campos de Guairá.

1614 – É concedida a Diogo de Unhate a primeira sesmaria paranaense, localizada nos rios Ararapira e Superagui.

1617 – Território do Guaíra recebe a denominação de Província.

1626 – Entrada em Vila Rica do Ivaí, Província de Guairá do bandeirante paulista Francisco Pedro Xavier, com sua gente. São presos os maiores e desarmados os habitantes.

1628 – O governador de Guairá sob a jurisdição de Charcas, Hernando Árias de Saavedra, coloca marco comemorativo de sua passagem por Sete Quedas.
Penetra no sertão do Tibagi a bandeira de Raposo Tavares e Maneol Preto. A devastação das Missões começa em 1629; em 1632 apenas Vila Rica permanecia resistindo.

1629 – Com exceção de Loreto e Santo Inácio, as Reduções Jesuíticas foram devastadas pelos paulistas.

1632 – Início da organização das Bandeiras Paulistas, com a finalidade de garantir o domínio português no Guairá e em Paranaguá. Já estava dizimada, quase por completo, a ocupação do Paraná Ocidental Espanhol.

1635 – Invasão dos Bandeirantes paulistas/portugueses no território até então dominado por espanhóis.

1641 – Patente do Vice-Rei Marquês de Montalvão nomeando Salvador Corrêa de Sá e Benevides almirante das repartições e Minas do Sul, em cujo caráter este esteve em Paranaguá em abril de 1661.

1646 – É erigido o pelourinho em Paranaguá.
Capitão Gabriel de Lara descobre o o ouro de lavagem em cinco ribeiros que vertiam para o sertão (Campos de Curitiba).

1648 – Realizada a primeira eleição para camaristas. Gabriel de Lara é eleito capitão povoador de Paranaguá.
Ébano Pereira remete ao Governador do Rio de Janeiro e consequente à Majestade mostras de Ouro e Pedras, retiradas da Planície e Planalto, supondo que tenha sido a primeira mostra de ouro brasileiro mandado ao país lusitano.

1649 – Empossadas autoridades na Vila de Paranaguá.

1651 – Notícias de Eleodoro Ébano Pereira, em carta dirigida ao Governador Antônio Galvão do achado de ouro de lavagem nos campos de Curitiba.

1653 – Relatos de moradores, criadores de gado e Lavoura, Serra acima.
Possível data do primeiro mapa da Baía de Paranaguá e dos Campos de Curitiba.

1654 – Diogo Braga requer a construção da cadeia pública em Paranaguá. Essa construção, porém, só iria ter lugar no segundo quartel do século XVIII, com projeto vindo de Portugal com o Ouvidor Rafael Pires Pardinho.

1655 – Entra em atividade a Casa de Fundição de Paranaguá.

1660 – Fundação da Capitania de Paranaguá.
É dado posse ao cargo de Capitão-mor à Gabriel de Lara, em 15 de maio.

1661 – Por despacho de Salvador Correia de Sá e Benevides é concedida ao Capitão Baltazar Carrasco dos Reis uma sesmaria de meia légua de estaca por uma desertão, na paragem do Barigüi nos campos do povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, por ter ele ajudado nas guerras com sua pessoa e seus administrados, sem possuir terras para agasalhar seu gado e chão para edificar sua morada.

1665 – Concede Gabriel de Lara, capitão povoador de Paranaguá, ao Capitão Manoel Dias Velho no Porto do Inferno, hoje Porto de Cima, uma sesmaria de terras, a mais antiga depois da que foi passada a Diogo de Unhatte. Ainda assim, considera-se esta a primeira na Capitania de Paranaguá.

1668 – É feito o primeiro requerimento de pelourinho, pelos homens bons de Curitiba, a Ébano Pereira, representante do Marquês de Cascaes.
Gabriel de Lara sobe para o planalto, autoriza a elevação do pelourinho e investe Mateus Leme como Capitão-Mor Povoador.
Data do início da ocupação dos primeiros povoadores com rebanhos de gado em Curitiba; Carta de Sesmarias de Mateus Leme.

1669 – Carta régia que cria os títulos e lugares de capitães mores, autoridades que comandavam com as cidades ou vilas, as ordenanças locais.

1671 – Fundada a Capela de S. José dos Pinhaes de Curitiba com tradicional imagem do Senhor Bom Jesus do Perdão, de propriedade do fundador Cônego João da Veiga Coutinho é entronizada.

1676 – Designada a Vila de Paranaguá para o pagamento anual de 25 mil réis, donativo às Princesas em trato de casamento, e para despesas oriundas da paz com a Holanda, a Câmara desta vila em vereança faz ver a impossibilidade de contribuir com tão forte anuidade porque já onerada com 60 mil réis anuais ao vigário, além do gravame dos quintos reais. As justas ponderações seriam 141 mais tarde magnanimamente atendidas e a anuidade reduzida a 20 mil réis apenas.

1677 – É levantada a Ermida de Nossa Senhora das Mercês na Ilha da Cotinga em Paranaguá, sendo a primeira capela do litoral do Paraná.

1678 – Gabriel de Lara como capitão povoador concede sesmaria de terras (para criação e plantas, com seus campos e capões no lugar denominado Cahajuru, distrito de Curitiba, para onde desejava mudar-se) a João Rodrigues Cid, morador em Paranaguá.

1679 – Oficialmente, em carta ao Rei de Portugal, o fidalgo D. Rodrigo de Castel Branco anuncia a inexistência de jazidas de prata em Paranaguá.

1680 – Salvador Jorge Velho descobre ouro nos campos de Curitiba.

1682 – O Capitão mór Francisco Magalhães é nomeado ouvidor da capitania de Paranaguá pelo capitão mór povoador Gabriel de Lara, que no fim desse ano veio a falecer, em Dezembro.

1683 – Despacha, concedendo a Manoel Soares, sesmarias de Terras e matos nos campos de Curitiba, o cap. mór e governador da Capitania de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá Thomaz Fernandes de Oliveira.
Data provável do primeiro casamento a ser realizado na pequena igreja da paróquia de Curitiba, de Aleixo Leme Cabral com Maria Furtado de Mendonça.

1684 – Acredita-se que tenha sido realizado neste dia o 1° Batizado na capela de Curitiba, da neta de Baltazar Carrasco dos Reis e sua mulher Isabel Antunes, realizado pelo Padre João de Souto.

1690 – O Pe. Melchior Pontes batiza diversas crianças, entre as quais a filha de um escravo do capitão povoador Mateus Martins Leme.

1693 – Curitiba recebe predicamento de Vila, passando a ser Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.

1697 – Testamento feito em Curitiba, por Baltazar Carrasco dos Reis.
Notícias de escravos africanos em Curitiba, embora não saiba ao certo efetivamente a data da chegada de tal etnia.

1699 – Criada a ouvidoria de Paranaguá.

A Pesquisa

O Projeto Barão do Serro Azul: Recomposição Histórica de um Herói pesquisa, desde 2015, dados e fatos históricos que conectam a história do Paraná com a trajetória de Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, único paranaense inscrito no livro do Panteão dos Heróis da Pátria.

Com a maturidade da pesquisa, percebemos que a melhor forma de apresentá-la era em um formato cronologico, que conferisse a dimensão das transformações e dos principais agentes da história do Paraná ao longo dos séculos.

Você é nosso convidado para explorar e viajar pelo Paraná e seus principais personagens!

Confira o conteúdo que preparamos para cada século.