Projeto Barão do Serro Azul:

Recomposição Histórica de um Herói

Século XVI

O Paraná do Século XVI

A historicidade desse período está intimamente ligada a discussão do Tratado de Tordesilhas, por parte de Portugal e Espanha. O “Paraná Espanhol” efetivamente começa a existir a partir de 1554, pela investida de colonização do governador Irala, assim erigindo a vila de Ontiveros, às margens do Rio Paraná. Em seguida, fundam-se a “Ciudad Real del Guairá” (1557) e “Villa Rica del Espiritu Santo” (1570). Em 1588 data a chegada dos Padres Jesuítas que ao longo do tempo em que estiveram no território fundaram 15 reduções indígenas. Simultaneamente em outro extremo geográfico, o litoral paranaense, já tem-se notícias da ocupação “paulista” (portugueses), à cata de ouro, tendo êxito em tal empreita, pois na segunda metade do Século XVI, por volta de 1570, já se trabalhava muito nas Minas de Paranaguá. Mesmo havendo dois extremos ocupados, iniciaram as investidas portuguesas ao território espanhol. A ocupação definitiva e destruição do Paraná Ocidental só acontecerão no Século seguinte.

O Princípio

Existe um consenso, sobretudo no âmbito antropológico, acerca da origem geográfica do gentio paranaense. Segundo Faris (1969) “É licito, pois, concluirmos que os “índios” da América ou ameríndios, entre os quais incluem os do Brasil e, logicamente, os do Paraná, vieram da Ásia, num espaço de tempo que ousamos fazer subir de 20.000 anos”.

Afinal, quais tribos habitavam nosso território?

O atual território paranaense teve como povos originários, advindos de pelo menos três famílias de âmbito nacional e de tronco linguístico Jê e Tupi-Guarani. O Carijó, habitante da nossa costa, falava Guarani.

“Os silvícolas que habitavam o atual Paraná, estavam assim distribuídos:

Carijó: dominadores de toda a costa marítima, de Cananéia à Lagoa dos Patos. Atacados e preados em grandes levas na região de Paranaguá pela ‘bandeira’ de Jerônimo Leitão, em 1585. Pouco antes de 1640, Gabriel de Lara, ao procurar estabelecer-se em Paranaguá, receou a hostilidade do gentio Carijó possivelmente ainda ressentido do assalto bandeirante de 1585, e prudentemente se localizou com sua expedição na ilha da Cotinga, fronteira ao continente, para onde se transferiu depois, fundando a vila de N. S. do Rosário de Pernaguá. Tendo captado a confiança dos índios, deles se serviu para a descoberta e a exploração de ouro. Assim foi que os carijó da costa parnanguara que não foram escravizados pela bandeira preadora ou que não se internaram no sertão fugindo a outras agressões dos brancos, passaram a constituir o lastro da nossa população litorânea. Ainda hoje a nossa gente praieira conserva o tipo do seu ascendente indígena.

Tingui: Dominavam os Campos de Curitiba, desde a Serra do Mar até a atual região metropolitana (São José dos Pinhais, Piraquara, Campo Largo, Araucária, Almirante Tamandaré, Colombo, Campina Grande do Sul e Rio Branco do Sul). “Os Tingui (‘Tin’ ‘gui’ – nariz afilado) não hostilizaram os aventureiros pesquisadores e exploradores de ouro que se estabeleceram com arraiais no Atuba e na chapada do Cubatão, inícios da formação de Curitiba. Deixaram-se ficar pelas imediações desses primeiros núcleos de população branca e foram serviçais das explorações auríferas, das estâncias de criação de gado, etc. Seus mestiços ainda constituem parte da população de vários dos municípios acima citados e se ufanam de sua ascendência. Não vai longe o tempo em que o vivente de Araucária e de Tamandaré avisava o contendor nas suas rixas: — ‘Cuidado, que eu sou Tingiu’. (O termo ‘tingui’ passou a ser designação gentílica dos paranaenses). Tindiquera é a antiga denominação da atual cidade de Araucária, e quer dizer ‘buraco de Tingui’, — pois estes índios tinham suas habitações em covas abertas no chão, em pleno campo”.

Caiuá: Procedentes das regiões ocidentais do rio Paraná, território paraguaio, domiciliaram-se no vale do Paranapanema.

Guaianá: Em 1610, por ocasião das fundações jesuíticas no Guaíra, foram encontradas tribos Guaianá nas margens do Rio Paraná, acima e abaixo dos Saltos das Sete Quedas; na mesma época, segundo o cônego João P. Gay, existiam numerosas malocas de Guaianá às margens do Iguaçu e do Santo Antônio, bem assim, em 1775 ao sul do rio Piritiba (Chopim), segundo o Mapa Geográfico da América Meridional, de Olmidilla. Ainda: Guarapiaba; Teminimó; Are; Bituruna (nos campos de Palmas e que deu a estes campos o nome de Bituruna); Itambaracá; Camperos; Iratim; Caingangue (da direita do Rio Uruguai, percorrendo os dois Piquiris e o Ivaí); Camé (primitivamente habitantes da mesopotâmia Iguaçu-Uruguai e depois nos campos de Guarapuava); Ibiraiara (do rio Negro ao sul do Uruguai); Gualacho (dos Campos de Palmas até ao ocidente da Serra do Mar); Botocudo (na região do monte Taió, mas avançaram até Timbó e Canoinhas, e em suas correrias iam até aos bosques do litoral catarinense e, para oeste, até Palmas); entre outros.
Há também a estimativa de que há cerca de sete mil anos, quando se consolidou o atual clima do litoral paranaense, quente e úmido, o gentio e erguia moradas temporárias para abrigar-se nas temporadas de pesca e coletas de moluscos. A constante estada em um terreno demarcado, fez com que os mesmos servissem de grandes depósitos de conchas, os Sambaquis. Esses morros de conchas são até hoje, o maior atestado de identificação de nosso povo originário que habitou a Costa, hoje paranaense. Estes sítios não formam só depósitos concheiros, como também revelam o uso do mesmo espaço para utilização de cemitério, onde em escavações foram encontradas ossadas humanas, implementos de pedras e de ossos, rituais funerários, etc., o que faz desses sítios, santuários sagrados para podermos depreender o modo de viver e morrer do índio que aqui vivia. Exemplos são os Sambaquis do Macedo, Guaraguaçu, Saquarema, dentre outros. Devemos ter em mente que naturalmente não era só o litoral que abrigava nossos povos originários. Há registros de organização de vida nos três planaltos; nestes três “degraus”, só foi possível, ter a ideia de vida pré-colonial a Oeste. Tais vestígios arqueológicos, marcam presença até hoje, nas ruínas das Cidades espanholas e das “Reduções Jesuíticas do Guiará”.

No deslocamento no território brasileiro, os Tupis desceram da Amazônia para a ocupar todo o litoral brasileiro e os Guaranis, percorrem pelo Chaco, uma extensa planície inundável, caminhando pelo Pantanal mato-grossense, chegando ao atual sul do Mato Grosso do Sul, Oestes do Paraná, Santa Catarina e Rio grande do Sul; os que mais desceram se instalam no Paraguai e na Região de Missiones, na Argentina. Mas voltemos ao Paraná.

Os Guaranis

Estabelecidos, no espaço geográfico, no princípio imperava grande harmonia, na “Mesopotâmia da América”, banhada pelos Rios Paraná, Paranapanema, Iguaçu e Paraguai, torrão da grande Nação Guarani, com uma estimativa de mais de um milhão de habitantes, à época pré-colonial. Até os contrafortes do atual São Luiz do Purunã, vigorava a República del Guairá.

Amistosos, em comparação aos tupis, levavam uma vida comunal, sedentarizados, com a habilidade da agricultura, cultivando mandioca, milho, erva mate e demais víveres, em um território de clima favorável ao desenvolvimento ao plantio, com abundância de água e terreno fértil, compreendido próprio do Segundo e Terceiro Planalto Paranaense, com os biomas da Mata de Araucárias, Floresta Tropical, de terra roxa, Floresta de Campos e Subtropical, contemplavam esses silvícolas o Éden sagrado de Tupã.

“Quando da conquista europeia seiscentista e do contato com os europeus, muitos desses povos indígenas acabaram recebendo várias denominações, como Araxá, Carijó. A denominação, porém não nos remete a uma posição clara sobre esse grupo, por muitos se entendidos como os próprios Guaranis.” (CARVALHO, 2009, p. 14)

Conforme a citação acima, se Guaranis do Planalto são propriamente ditos, e os carijós idem, chegamos a conclusão que o Paraná é o grande Estado do Povo Guarani!

América espanhola, Paraguai e Paraná

A chegada dos espanhóis ao Continente Americano foi determinante para o desfecho da história da primeira ocupação territorial do atual Oeste e Noroeste do Paraná. Espanha, com um modelo mais apurado de colonização, logo tratou de implantar um modelo colonial que garantia a manutenção do domínio de seus territórios. Pouco tempo depois, com o estabelecimento dos portugueses na porção Leste, atual litoral paranaense, iniciou-se uma embalada cruzada, a fim de garantir a posse de todo o Paraná em favor do domínio lusitano. O território do Guayrá “pertencia” à Coroa Espanhola desde 1542, subordinado ao Vice-Reino do Peru.

Reconhecendo a legitimidade de fato e virtualmente de direito que os castelhanos teriam sobre o território em questão, em desrespeito ao Tratado de Tordesilhas, partindo do Paraguai sede administrativa do Vice-Reino, com o pretexto da não clareza das demarcações estabelecidas, é fundada a primeira das doze cidades espanholas no Guayrá, Ontiveros, pelo capitão García Rodríguez de Vergara, em 1554, na margem esquerda do rio Paraná, entre a foz do rio Iguaçu e o rio Piquiri no atual noroeste do Estado do Paraná. Em seguida, nasce a Ciudad Real del Guayrá, em 1556, na margem esquerda do rio Paraná, nas imediações da atual cidade de Guaíra. Rui Díaz de Melgarejo fundou Villa Rica del Espíritu Santu, (1570), 350 quilômetros a leste das Sete Quedas, no atual município de Nova Cantu. Em 1575, foi transferida por Ruy Diaz Guzman à confluência dos rios Ivaí e Corumbataí, atual município de Fênix.

Expedições, reconhecimentos e conquistas

A chegada dos espanhóis ao Continente Americano foi determinante para o desfecho da história da primeira ocupação territorial do atual Oeste e Noroeste do Paraná. Espanha, com um modelo mais apurado de colonização, logo tratou de implantar um modelo colonial que garantia a manutenção do domínio de seus territórios. Pouco tempo depois, com o estabelecimento dos portugueses na porção Leste, atual litoral paranaense, iniciou-se uma embalada cruzada, a fim de garantir a posse de todo o Paraná em favor do domínio lusitano. O território do Guayrá “pertencia” à Coroa Espanhola desde 1542, subordinado ao Vice-Reino do Peru. Reconhecendo a legitimidade de fato e virtualmente de direito que os castelhanos teriam sobre o território em questão, em desrespeito ao Tratado de Tordesilhas, partindo do Paraguai sede administrativa do Vice-Reino, com o pretexto da não clareza das demarcações estabelecidas, é fundada a primeira das doze cidades espanholas no Guayrá, Ontiveros, pelo capitão García Rodríguez de Vergara, em 1554, na margem esquerda do rio Paraná, entre a foz do rio Iguaçu e o rio Piquiri no atual noroeste do Estado do Paraná. Em seguida, nasce a Ciudad Real del Guayrá, em 1556, na margem esquerda do rio Paraná, nas imediações da atual cidade de Guaíra. Rui Díaz de Melgarejo fundou Villa Rica del Espíritu Santu, (1570), 350 quilômetros a leste das Sete Quedas, no atual município de Nova Cantu. Em 1575, foi transferida por Ruy Diaz Guzman à confluência dos rios Ivaí e Corumbataí, atual município de Fênix. Antes mesmo da fundação das cidades espanholas, sertanistas espanhóis e portugueses, como Aleixo Garcia, Alvar Cabeza de Vaca, utilizando o caminho do Peabiru, tomaram contato com o povo Guarani e penetraram interior adentro, com o objetivo de alcançar o Paraguai e, mais tarde, a preação de cativos. Quando narramos a grande aventura dos espanhóis, no atual território paranaense, tenho certeza que deixaremos os leitores surpresos, com o fato de ter coexistido um mesmo território sendo ocupado a Oeste por um tempo de 77 anos e, a Leste, por Lusitanos. Não podemos nos enganar e concluirmos que mesmo dentro de um território ocupado por duas nações irmãs, houvesse uma separação. Os espanhóis e portugueses irão, no decorrer dos fatos históricos, miscigenar-se, formando o cidadão paranaense, pois as primeiras famílias que irão organizar uma sociedade da província ao Sul de Cananeia serão oriundas de casamentos entre espanhóis e portugueses.
O território que hoje forma o Estado do Paraná pertenceu à duas donatárias mais meridionais concedidas no Brasil (1534-1535) à Martim Afonso de Souza e a Pero Lopes de Souza, que se consolidou como “Capitania de São Paulo”, sob. a qual ficamos anexados até 1853[…] Mapas de navegadores espanhóis assinalam a altura, perto de Santa Catarina com a indicação “Terra de Vera”, denominação dada por D. Alvar Nunes Cabeza de Vaca, em 1541, e a altura de Paranaguá com a inscrição “Baya de la Corona castilla”. (Baía da Coroa de Castela). (MARTINS, s/d, p. 51)
Tal afirmação nos leva à conclusão de que mesmo com o cruzamento da linha imaginária de Tordesilhas, passaria por Paranaguá sendo o final do domínio lusitano o Oceano, urgiu um descontentamento português, com as incursões castelhanas no nosso território. Este litígio só será resolvido em parte com o Tratado de Madrid e solucionado com o Tratado de Santo Ildefonso. Estabelecidas as cidades espanholas, logo se dá a escravização, que não era exclusiva dos portugueses, o sistema da encomienda, baseado na força bruta dos braços escravizados do silvícola. Neste contexto, a Igreja Católica, na figura dos Jesuítas, terá uma função “espiritual e temporal”, objeto de discussão polêmica até hoje. Em uma fuga da escravização, com pouca resistência guarani, inicia o projeto de poder nas reduções jesuíticas.
Esse contato inicial que a ação missionária manteve com o gentio estabeleceu uma relação de poder , na qual a cultura missionária era um conjunto de traços implantados pelos religiosos em nome de Deus e de sua Majestade, inserindo no sistema de colonização espanhol. (2005, p. 85 e 87)
A legitimidade da Conquista espiritual e política pelos religiosos, já havia sido legitimada no século anterior, em provisão Real no Reino de Castela. Era colocar a cartilha em prática. Seja como for, não faremos juízo de valor, em vista do contexto histórico da indissolúvel união Igreja-Estado, sobretudo no fervor católico, que selou a independência hispânica.
Planta Padrão das Reduções Jesuíticas no Guayrá

Reduzir, educar e catequizar

À época da entrada dos Jesuítas espanhóis na Região del Guayrá (1588), o território já contava com três cidades fundadas e em atividade.

A presença gradativa dos jesuítas na América Espanhola permitiu que houvesse uma familiarização desde a topografia até os hábitos culturais do povo nativo, visto que quando chegaram na Missão do Guayrá já estavam “cancheados” do modus vivendi guaranítico. Assim sendo, de 1610 a 1628, fundam-se quinze Reduções Jesuíticas na Província do Guayrá: Nossa Senhora do Loreto, seria a “capital” das reduções; Santo Inácio, São Francisco Xavier, São José, Nossa Senhora da Encarnación, Santa Maria, São Paulo, Santo Antônio, Sete Arcanjos, São Miguel, São Pedro, Conceição de Nossa Senhora do Guayaná, São Tomé. A conceituação perfeita das Reduções foi assim descrita por Jayme Vicens:

“A Redução, na verdade, não era outra coisa que um “município” de índios , somente que isenta e independente de todo funcionário civil e espanhol. Os padres a dirigem, e são consultados para tudo pelo alcaides e regedores índios; O missionário é nelas padre, pastor, juiz, chefe professor, cacique, médico, gerente, contador, evangelizador. As características externas de uma missão são: a honradez administrativa, a densidade e a amplitude da vida cerimonial catequética e religiosa, a disciplina rígida que lhe dá matiz de comunidade conventual, o regime de trabalho suave e bem organizado (seis horas diárias) e geral bem-estar econômico.”

Em suma, podemos definir os objetivos de uma redução nas seguintes ações: catequização, ensino de ofícios – além de músicas e artes visuais -, ajudar na recuperação de enfermos, sacramento da extrema-unção aos mortos, abandono por parte dos Guaranis da poligamia, amenizar os conflitos entre espanhóis e índios, defender a Coroa espanhola ao denunciar e lutar contra as invasões paulistas para a captura do gentio no território do Guayrá.

A experiência “comunal” das reduções despertou o interesse do outro lado do Oceano de filósofos como Montesquieu, Bacon, Voltaire, chegando a ser reconhecido por Clovis Lugon, que publicou um livro com o nome de “República Comunista Cristã dos Guaranis”, tendo como base do seu pensamento o cristianismo operando na igualdade da vida comunal tribal. A experiência também seria analisada na Europa, por intelectuais que sustentavam a ideia que no Guayrá estaria sendo posta em prática a utopia de Thomas More e as ideias propostas por Tammaso Campanela e, até mesmo, comparada às ideias da “República” de Platão.

A República del Guaira

Destruição das missões - Genocídio, êxodo e resistência

Como já dissemos, as visitas esporádicas de Paulistas, ou Bandeirantes, ficaram cada vez mais intensas no Oeste, ao passo que urgia a necessidade de mão-de-obra escrava silvícola nas vilas vicentistas, sobretudo para a coleta do ouro e prata. O ano de 1611 marca o começo do fim das missões e do território edificado do Guayrá. Veio, então, o êxodo dos Catecúmenos: Êxodo por consequência, genocídio por causa. E o historiador vagueia confuso entre heroico e assassino, entre orgulho e sarcasmo, entre covardia e vitória…

Vejamos: Na antiga província de Guairá, o afamado aventureiro paulista empreendeu vitoriosamente a destruição das reduções, liquidando tudo, “destruindo todas as aldeias, matando, cativando e expulsando todos os índios daquelas missões jesuíticas, diz o historiador paulista Toledo Piza: “Pelas narrações dos jesuítas, o Guairá deveria ter então cerca de 100.000 índios aldeados, e destes uns 15.000 foram mortos e cerca de 60.000 feitos prisioneiros e trazidos para o povoado, sendo vendidos cativos em S. Paulo e no Rio de Janeiro. Foi tal, então, a abundância de escravos que o preço de um bom índio baixou de 100$000 a 20$000”.

Em 1632, despertaram iguais ambições de outros paulistas pelos lucros fabulosos alcançados por aqueles que conquistaram a “república teocrática”. E o historiador se engasga dizendo que “como as reduções jesuíticas, de ambição estrangeira, ou adversas à unidade do país que se formava, façanhas levadas a cabo com muito heroísmo, embora estimuladas pelo cálculo da fortuna, ainda assim justificável e natural, são elementos bastantes para glorificarem esses indômitos pioneiros da grandeza de hoje”. E o cínico, sarcasticamente, justifica que foi “eliminado pela raiz o perigo futuro para a integridade moral e material do Brasil”! Em nome das “guerras justas” os índios foram subjugados, pois a legislação portuguesa autorizava a guerra quando houvesse resistência dos selvagens. E como resistiram! Resistiram tanto que se tornou mais barato a importação de africanos. A historiografia oficial falseia dizendo que eram “vagabundos”, escamoteando a histórica luta do índio contra a escravidão.

Os bandeirantes agiam violentamente; os padres, com certa blandícia, que não eliminava a violência cultural. Que lições de caráter, personalidade e resistência os índios nos deixaram! Somente após destribalizados pela violência e desculturalizados pela catequese, individualmente se renderam ao invasor. Foi nessas condições que se transformaram, embora submissos, em péssimos trabalhadores, procurando outra forma de resistência, preferindo morrer que viver despersonalizados. Quando vinham em grupo tribal ou familiar eram separados. Desbaratadas, no segundo século da chegada dos portugueses, as populações aldeadas pelos jesuítas e escravizadas pelos castelhanos, tiveram suas vidas rumadas ao interior do Paraguai e Argentina e, ao de menos sorte, morreram em fuga ou em aldeias vicentinas.

O fim do velho Oeste

A região Oeste do Paraná ficou muito tempo sem a presença branca. As questões de divisas, com os castelhanos, só foram finalizadas com o acordo de Missões, em 1895.

O povoamento, ao norte e ao oeste dos campos (nas regiões hodiernas de Bandeirantes, Cascavel, Capanema, Cianorte, Loanda, Londrina, Maringá, Medianeira, Paranavaí, Pato Branco, Umuarama), se processou com significado só depois de 1930, com a migração colonizadora. O progresso e a grandiosidade que marcam aquelas regiões são muito recentes e, portanto, ainda em fase de consolidação, de acomodação para o surgimento de culturas locais, uma vez que ainda borbulha a fervura caldeada pelos impulsos vindos de diversos matizes e estilos, cada qual querendo se impor sobre os demais. Hoje ironicamente é a Região colonizada por migrantes gaúchos, que mantém muito da cultura castelhana.

Personagens

GUAIRACÁ

“Cacique geral dos Guarani da região do Guaíra (abreviatura de seu nome). Durante o século da exploração da terra e da escravização da gente no ocidente paranaense, Guairacá foi o condutor da defesa contra os invasores dos vastos domínios guaranis. “Sua divisa de guerra, palpitante nos seus feitos heroicos, ainda hoje ecoa na imensa região dos rios que correm para o Paraná: ‘Esta terra tem dono.’

Chefe indígena tão prestigioso entre os povos de sua raça, que o seu nome se confundia com o da imensa região banhada por todos os afluentes do Rio Paraná, do Paranapanema ao Iguaçu. Reconhecendo este prestígio, Irala confirmou a denominação de Guaíra dada em honra ao maioral dos chefes guaranis.

 

PADRE ANTÔNIO RUIZ MONTOYA

Nasceu em Lima, em 1585. Notabilizou-se por seu trabalho missionário nos atuais territórios do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil e por ter escrito e publicado, em 1640, o Tesoro de la lengua guarany, um dicionário da língua guarani antiga. Em 1612, o início de sua atuação como missionário entre os guaranis, ocorreu no contexto no qual foram promulgadas as Ordenanzas de Alfaro, em 11 de outubro de 1611, que tinham como objetivo evitar abusos praticados por “encomenderos” contra os nativos. A partir de 1622, quando se tornou superior dos jesuítas daquela região, fundou 11 novas reduções. Em 1629, liderou a fuga de 12.000 guaranis da província do Guayrá até a província de Misiones, dos ataques dos bandeirantes que pretendiam escravizá-los. Em 1636, lhe foram designadas 26 reduções na região dos rios Paraná e Uruguai. Nesse período, teve que armar os índios guaranis para repelir os ataques dos bandeirantes.

Referências Bibliográficas

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Linha do Tempo

1492 – É “descoberta” a América – Chegada dos Espanhóis no Continente

1494 – É assinado o Tratado de Tordesilhas.

1500 – Cabral e sua Esquadra Chega ao Brasil

1521 – Juan Ginés de Sepulveda publica Liber gestorum Aegidii Albornotii, onde defende que povos mais fortes físico e moralmente sempre dominam povos com valores morais e religiosos inferiores. Foi um arauto para legitimar a conquista com sangue da América Espanhola.

1522 – Aleixo Garcia embala a primeira expedição terrestre de Europeus pelo Sul do Brasil.

1526 – É editado os textos da “Capitulaciones de la Real Provisíon”, deixava claro a intenção da conquista espiritual, combinada com fins políticos.

1531 – Pero Lobo parte de Cananéia com destino ao Oeste do Paraná, nas cercanias da Foz do Iguaçu, é liquidado pelos Guarani.

1531 – Fundação de Cananéia

1531 – Vicentinos e Paulistas, escravizam 60.000 Carijós nos litorais paranaenses e catarinense.

1532 – Fundada oficialmente a Vila de São Vicente

1537 – Fundação da “Fortificação”, depois cidade de Asunción.

1537 – O Papa Paulo III reconhece que o indígena tinha alma.

1538 – Fundada oficialmente a Vila de Iguape

1541/42 – Don Alvar Nunes Cabeza de Vaca, espanhol, parte de Santa Catarina, usando o caminho do Peabiru, a partir do rio Itapocu, chega ao Rio Iguaçu e atravessou o Rio Paraná, atravessando o atual território paranaense, com destino final a Assumpção. (deixa importantes relatos de viagem)

1541 – Primeiras notícias concretas (fontes escritas) sobre a existência da herva matte.

1541 – Datação do mapa de navegadores espanhóis onde à altura de Paranaguá, referia-se como baía da Coroa de Castela

1542 – Criado o Vice-Reino do Peru

1544 – Domingos Irala, futuro Governador do Paraguai, ingressa no território del Guayrá para prerar índios.

1549 – Em relato de sua estada no Litoral do Estado, Hans Standen informa em seu diário, a existência de portugueses vivendo na Ilha da Cotinga.

1549 – Chegam ao Brasil os Padres da Companhia de Jesus.

1551 – Diogo Sanabria, refaz os caminhos de Cabeza de Vaca.

1552/53 – Ulrich Schmidl, viajante e cronista de origem germânica, percorre o território paranaense. (deixa importantes relatos de viagem)

1552 – Bartolomeu de las Casas, rebate violentamente a tese de Sepulveda, colocando-se como defensor dos indígenas.

1553 – Domingo Martínez de Irala, (espanhol) explora a parte do rio Paraná e torna-se o primeiro europeu a avistar as sete quedas. Toma ele a iniciativa de fundar povoação espanhol no Ocidente do Paraná.

1554 – Fundação oficial de Vila de São Paulo.

1554 – Ruy Dias Melgarejo percorre o Território do Guayrá com mais frequência

1554 – Fundação da Vila de Ontiveros, pouco acima da foz do Rio Iguaçu.

1557 – A população da nova Vila, ante a precariedade de sua localização geográfica, é transferida para as proximidades da foz do Rio Piquiri, batizada agora de Ciudad Real Del Guairá.

1560 – Ocorrem as primeiras investidas em busca das minas de ouro e prata em Paranaguá.

1560 – Assunção como sede de uma província colonial espanhola, recebeu o título de “Madre de las Cuidades”

1570 – Na confluência dos rios Corumbataí com Ivaí é fundada por Ruy Dias Malengro a Vila Rica del Espiritu Santo, com um objetivo estratégico de resguardar o fluxo do caminho do Peabiru, ante ao eminente avanço dos portugueses no Ocidente paranaense.

1578 – Há notícias de que muito se trabalhavam à essa época nas minas de Paranaguá.

1580 – Início da União Ibérica, com o Reinado de Felipe da Espanha.

1588/89 – Os Jesuítas entram no Paraguai, vindos do Brasil. Os Padres Manuel Ortiga, Juan Saloni e Thomas Fieldes percorrem a região del Guayrá, em sondagem ao entendimento da cultura dos Guarani, marcando o início da Missão Jesuítica no Território del Guayrá.

1607 – o Governador do Paraguai, Saavedra, relata ao rei Felipe III a necessidade urgente da catequização no Guairá, afim de não precisar conquista pelas armas.

1609 – É Criada a Província Jesuítica do Paraguai, iniciando o plano das reduções jesuíticas.

1610 – Fundação da Primeira Missão Jesuítica no Guayrá, San Inácio Loreto e San Ignacio Mini, no vale do Paranapanema.

1622 – Antonio Ruyz Montoya torna-se superior das Missões Jesuíticas do Guayrá, foi possivelmente o Jesuíta mais importante em feito a favor da dignidade dos Guaranis.

1624 – Redução de San Francisco Xavier

1625 – Redução de San Joseph, Nuestra Señora de Encarnación

1626 – Redução de Santa Maria

1627 – Redução de San Pablo del Inaí, Santo Antônio, Los Angeles, San Miguel, San Pedro.

1628 – Redução de Concepcion de Nuestra Señora de Guañaños

1628 – Redução de San Thomas, Ermidia de Nuestra Señora de Copacabana, Jesus-Maria.

1629 – Montoya lidera a fuga de doze mil índios do fogo bandeirante.

1632 – Destruição pelos bandeirantes das reduções Jesuíticas do Guairá

1637 – Montoya queixa-se ao rei da Espanha, Filipe IV, sobre os bandeirantes paulistas que atacavam as missões jesuítas em busca de índios para serem vendidos como escravos.

1638 – Montoya chegou ao Rio de Janeiro a caminho da Europa, onde se queixaria das incursões dos bandeirantes e solicitaria o fornecimento de armas de fogo para que os habitantes das reduções pudessem se defender. No mesmo ano publica em Madrid as obras: Tesoro de lengua guarany, a crônica Conquista espiritual hecha por los religiosos de la Compañía de Jesús en las provincias del Paraguay, Paraná, Uruguay y Tape e um catecismo em língua guarani.

A Pesquisa

O Projeto Barão do Serro Azul: Recomposição Histórica de um Herói pesquisa, desde 2015, dados e fatos históricos que conectam a história do Paraná com a trajetória de Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, único paranaense inscrito no livro do Panteão dos Heróis da Pátria.

Com a maturidade da pesquisa, percebemos que a melhor forma de apresentá-la era em um formato cronologico, que conferisse a dimensão das transformações e dos principais agentes da história do Paraná ao longo dos séculos.

Você é nosso convidado para explorar e viajar pelo Paraná e seus principais personagens!

Confira o conteúdo que preparamos para cada século.